domingo, fevereiro 24, 2008



Raúl Castro é eleito novo Presidente de Cuba
A saída à "chinesa" ao capitalismo continua


A Assembléia Nacional de Cuba elegeu hoje deia 24 de fevereiro Raúl Castro (irmão de Fidel Castro) novo presidente de Cuba. Raúl já ocupava o cargo de Presidente interino e deve continuar com seu programa de abertura econômica, ampliação das desigualdades, diminuição dos beneficios. A saída chinesa ao capitalismo que já era a opção política de Fidel deve ser mantida e até intensificada por Raúl Castro.

O novo presidente deve continuar a política de reestruturação capitalista em Cuba, com um estado, partido e instituições intensamente burocratizadas e com uma política de empresas mistas, CUC e etc a eleição de Raúl Castro não muda em nada o caminho "tortuoso" que Cuba já vinha percorrendo.
Em Cuba há uma necessidade gritante de fortalecimento do movimento dos trabalhadores de forma independente para lutar contra as reformas propostas por Raúl.

Raúl Castro é eleito novo presidente de Cuba e nada muda!

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A 40 anos do assassinato de Che Guevara “Revolução socialista ou caricatura de revolução”
Por Mercedes Petit
Para muitos dos jovens que usam sua figura em camisas e cartazes, o Che é um exemplo de vida militante, honesta, de entrega a um ideal de mudança revolucionaria e de luta. Ernesto Guevara é tudo isso, e muito mais. Nas polêmicas atuais sobre a luta pelo socialismo do novo século, tem muito para aprender e tomar como referência sua experiência. Nossa corrente, encabeçada por Nahuel Moreno, criticou desde suas origens as concepções guerrilheiras e foquistas (da teoria do “foco” guerrilheiro) de Guevara. Essas críticas foram feitas com o convencimento de que aqueles focos guerrilheiros eram um caminho sem saída para conquistar novos triunfos e no marco da defesa incondicional da primeira revolução socialista da América Latina. Criticávamos também não colocar a necessidade da autodeterminação e democracia para a classe operária e a necessidade de construir novos partidos revolucionários. Porém também considerávamos que a figura de Guevara ia muito mais longe que essas diferenças.“Guevara: herói e mártir da revolução permanente”Com esse título, há quarenta anos Nahuel Moreno publicava sua homenagem ao revolucionário assassinado na Bolívia. “Guevara, que jogou a vida quantas vezes fosse necessário, até perdê-la, pela revolução cubana e latino-americana, não teve temor de enfrentar e dar resposta aos problemas mais graves colocados na revolução. Desde a defesa de Cuba até a construção do socialismo e a etapa de transição, passando pelas relações econômicas entre os países socialistas […] para dar una saída: a revolução permanente” (La Verdad, 23/10/67).Recordando seu encontro com Che na reunião de Punta del Este, Moreno não duvidava em localizar nele a “ala mais revolucionária”, que se opunha a direção da URSS, no processo cubano, ainda que sem passar por cima de suas posições pró chinesas. (El Tigre de Pobladora, El Socialista, 2006).Ademais de incansável defensor da expropriação e da centralização econômica, Guevara defendia a “participação dos trabalhadores na direção da economia nacional planificada” (ver, por exemplo, seu discurso de 8/8/61). E teve uma particular e inicial preocupação em denunciar e combater os privilégios que começava a usufruir os funcionários do governo e do partido. Manteve uma vida pessoal e familiar absolutamente austera e todos os domingos se colocava na frente de brigadas de trabalho, para educar com sue exemplo. Sua visão internacionalista o levou a entender a defesa de Cuba como parte da extensão da revolução socialista ao resto da América Latina e a se chocar cada vez mais com as posições da burocracia soviética. Criticou duramente os termos de intercambio econômico da URSS com os demais países do chamado “campo socialista”. Em fevereiro de 1965 pronunciou um celebre discurso em Argel. Chamou a unir as lutas contra o imperialismo até acabar definitivamente em todo o mundo, a fortalecer o internacionalismo proletário e a luta mundial pelo socialismo. Condenou a política de coexistência pacifica entre a condução da URSS e o imperialismo, exigiu o apoio incondicional, com armas grátis, aos vietnamitas, denunciou a escravidão da dívida externa e as bases militares ianques. Essas posições revolucionárias foram perdendo apoio dentro de Cuba, e pouco depois se foi para não voltar.Antes de cumprir o primeiro ano de seu assassinato, a condução de Fidel e do PC cubano apoiaram em agosto de 1968 o massacre da revolução na Tchecoslováquia por parte do exercito soviético. E quando assumiu Allende no Chile apoiou calorosamente a “via pacífica ao socialismo”, que com sua utopia de conciliação de classes abriu o caminho ao triunfo de Pinochet.As concepções do “socialismo do Século XXI” e GuevaraAtualmente, os governos de Venezuela e Cuba, e o PC cubano, proclamam um chamado ao “socialismo do Século XXI”. Defendendo a economia mista capitalista, a convivência entre distintas formas de propriedade (incluindo os negócios das grandes multinacionais) e os mecanismos de mercado. Os fracassos de Chile nos anos setenta e de Nicarágua nos oitenta já foram provas contundentes de aonde conduz esse neo-reformismo. Tomou-se um caminho oposto ao de Cuba, mantendo o capitalismo. E Che já não estava. Porém deixou sua concepção socialista revolucionária e internacionalista. Para Guevara era uma totalidade a necessidade da revolução, das expropriações, a planificação e a participação consciente dos trabalhadores pela construção da economia de transição, a extensão da revolução, e a solidariedade mutua entre os países que se chamavam “do campo socialista”. Para seu enfoque, não havia meias palavras. Se o que prima é o mercado, e não a planificação e a centralização trata-se de capitalismo, e não de socialismo. Por isso já em 1963 rechaçava as posições que defendia um funcionamento mercantil para a economia cubana e criticava o governo da URSS que o encorajavam.As experiências de “reformas em direção ao mercado” dos burocratas chineses e dos soviéticos, que abriram caminho à restauração do capitalismo nesses países, e as renovadas tentativas de fazer “socialismo” no capitalismo mantém em vigência aquela frase pela qual Guevara deu a sua vida: “revolução socialista, ou caricatura de revolução”.¿Acreditava Che que Trotsky “era um inimigo da União Soviética”? Sempre surgiu um interrogante sobre as inclinações de Che a Trotsky, o velho revolucionário russo. Recordemos um só exemplo. Aos 30 anos de seu assassinato, o “Comandante Benigno” (o cubano Daniel Alarcón Ramírez, que o acompanhou em Bolívia), declarava que, logo de seu discurso em Argel, “para a União Soviética o Che se converterá em um anti-soviético. Alguns o qualificavam de trotskista ou algo parecido. Isto não era de conhecimento do povo cubano se não de alguns dirigentes.” (La Prensa, 29/6/97)Essa falta “de conhecimento do povo cubano”, e a inexistência de debates democráticos e abertos sobre os grandes problemas da revolução, tanto nos anos sessenta como agora, não permitiu ter uma resposta documentada sobre muitas posições de Che, dando peso às lembranças individuais para difundir supostas posições políticas.É o caso, por exemplo, de Orlando Borrego Díaz, que combateu sob a condução de Che durante a luta contra Batista e se converteu em um estreito colaborador e amigo. Em uma entrevista há poucos anos, disse Borrego que Guevara era um ávido leitor e muito estudioso, que a Trotsky “o leu completo”. E agrega sua opinião: “[…] O Che evolui e entendeu tudo sobre Trotsky. Ele pensava que Trotsky havia indo “apagando-se” até o final de sua vida, porque chegou um momento em que seu ódio a Stalin… (tem suas razões, Não?) o foi transformando em um inimigo da União Soviética. Não de Stalin, mas da União Soviética. Assim no final de sua vida […] estava como “louco”. Borrego adjudica ao Che, sem prova nenhuma, a velha calunia mil vezes alimentada pelo stalinismo, contra Trotsky. Desde uma suposta “crítica” a Stalin, desqualificando a Trotsky e definindo-o como “inimigo da União Soviética”. Esse foi o argumento oficial de Stalin para “justificar” sua perseguição a Trotsky e seu assassinato em 1940. Porém se o Che “o leu completo”, sabia perfeitamente que os últimos textos de Trotsky no “ final de sua vida” eram una polêmica apaixonada da defesa da URSS, contra setores pequenos burgueses que rompiam com a Quarta Internacional, horrorizados pelos crimes de Stalin. A “versão Borrego” se incorpora ao infinito montante de lixo contra o velho revolucionário. E ficam os fatos. Guevara, em muitas de suas críticas à burocracia e na sua defesa da revolução socialista, coincidia com as posições de Trotsky, ainda que sem nomeá-lo. E quando estava na selva boliviana, Che, na sua pouca bagagem levava um livro de Trotsky…Borrego é especialista em difundir supostas posições de Che, manipulando “lembranças” e frases fora de contexto. Para sustentar aos burocratas venezuelanos, com Chávez na cabeça, que impedem que se desenvolva o controle operário nas empresas estatais, Borrego Díaz escreveu em 2005, que Guevara defendia uma gestão vertical e autoritária nas mãos de burocratas governamentais, sem participação dos trabalhadores...
** Neste caso, tanto a atividade como os textos de Guevara o desmentem categoricamente.
* Publicado em O Capital, historia e método, por Néstor Kohan. Universidade Popular Madres de Plaza de Mayo, 2003. Este dirigente do Partido Comunista e ex-ministro e atual assessor do governo cubano. ** Ver “La pelea por la cogestión y el control obrero”, na revolução venezolana, El Socialista, 2005

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