quinta-feira, fevereiro 21, 2008


O Reitor da UnB mobilizou para a Assembléia dos professores!

O Reitor da Universidade de Brasília e os professores ligados à administração superior mobilizaram nos últimos dias vários professores beneficiados por esta política de privilégios, bolsas, apartamentos funcionais da UnB e etc.

Aproveitando do período de férias na universidade membros da administração superior e professores que ocupam cargos (decanatos, diretorias e etc) compareceram em massa ao espaço de deliberação dos professores para defender o Reitor e toda sua política nociva e danosa para a unb em troca de continuarem em seus postos e manterem uma gestão que prefere uma luxuosa decoração no apartamento funcional (470 mil reais) em detrimento das condições objetivas da universidade.

Assessores diretos do Reitor e servidores da universidade compareceram à assembléia para fazer "patrulhamento ideologico" na tentativa de amenizar a crise de gestão na Universidade de Brasília. Obviamente que todos os professores ocupando cargos ou não tem o direito de participarem do forum independente de sua categoria, mas, a legitimidade deste espaço fica prejudicada quando a Reitoria e toda a Administração superior da universidade utilizam sua estrutura, beneficio e aparato para articular uma "intervenção política".

O DCE reconhece que na universidade existem quase 1.500 professores e também vários professores substitutos que vivem uma realidade muito diferente, sem privilégios, sem estrutura de biblioteca qualificada, sem luxuosos apartamentos funcionais e no cotidiado em sala de aula vivem a concreta precarização de suas condições de trabalho e de toda a estrutura da UnB.

Com tudo isso, o DCE-UnB reforça a necessidade do Reitor da Universidade de Brasília se afastar do cargo para que não influêncie nas investigações internas e externas usando de sua autoriade institucional. Esta assembléia representa apenas uma demonstração de como o Reitor e a Administração superior da universidade podem influênciar utilizando a estrutura interna, as decisões, discussões, auditorias e investigações.

O afastameto do Reitor da Universidade de Brasília e uma auditoria interna com a particiação de professores, servidores e estudades é urgente e necessária para a UnB reverter os danos causados por esta crise.
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Carta aberta ao Prof. Timothy Mulholland EM DEFESA DA UnB E DA UNIVERSIDADE PÚBLICA BRASILEIRA

Brasília, 18 de fevereiro de 2008

Prof. Timothy Mulholland,
É muito grave a situação de constrangimento a que o senhor está submetendo a UnB. Decidi escrever esta carta porque acho que não há forma mais franca para dizer o quanto considero que o senhor está sendo nocivo, não só à UnB, mas à Universidade Pública brasileira como um todo. Escrevo-a na condição única e exclusiva de professor da UnB, não na de ex-presidente da ADUnB ou de membro (suplente) do CONSUNI.
Internamente, os expedientes que o senhor usou para conseguir destinar recursos da UnB ao mobiliamento da residência oficial do reitor são insustentáveis e representam quebra, na minha opinião definitiva, de confiança. O processo da própria destinação de imóvel para tal fim merece ser questionado, mas deixo de fazê-lo aqui para concentrar-me no que é mais recente e ganhou manchetes de jornais e telas de TV em horário nobre. Corrija-me se eu estiver equivocado (e eu não oferecerei qualquer resistência a admitir meu erro), mas, ao que me consta, ao Conselho Diretor cabe a gestão do patrimônio da FUB. Os recursos que compõem o FAI, Fundo de Apoio Institucional, são gerados pelas atividades de ensino, pesquisa e extensão da UnB. O FAI não vem do rendimento do patrimônio imobiliário da FUB – vem do trabalho do capital humano da UnB. Portanto, a gestão dos recursos do FAI cabe aos órgãos colegiados superiores da UnB; no caso, o CAD e o CONSUNI. Além do que considero ser uma flagrante irregularidade, aprovando no Conselho Diretor o uso desses recursos para o palácio residencial da reitoria, o senhor quebrou a confiança da comunidade universitária – esta que lhe elegeu, mas só tomou conhecimento de tudo pela imprensa.
Sua primeira reação à divulgação do caso (pelo menos segundo as declarações publicadas na imprensa antes da nota oficial do Conselho Diretor da FUB e nunca desmentidas) foi reprovável sob todos os aspectos. Incomodou-me profundamente sua atitude de lavar as mãos, dizendo que toda relação entre a UnB e as fundações se faz por meio de contratos e dando a entender que a UnB não pode ser responsabilizada pelas despesas feitas pelas fundações. Como se fossem os dirigentes das fundações os responsáveis por decidir os destinos dos recursos do FAI. Prof. Timothy, o senhor deve estar entre os muitos colegas na UnB que discordam dos questionamentos que o Movimento Docente faz às fundações. Por outro lado, há no Movimento Docente quem me considere pouco crítico às mesmas fundações. Não vou discutir isso aqui, mas quero ressaltar que considero injustas as acusações e insinuações que são feitas acerca de gastos com, por exemplo, jantares. Eu próprio gostaria de ter projetos que me dispensassem de gastar dinheiro do próprio bolso com refeições e traslado de colegas pesquisadores que vêm a Brasília para bancas ou outras atividades acadêmicas, por exemplo. Como eu, o senhor sabe que esse é o caso da maior parte, pelo menos, dos gastos que vêm fazendo a festa da imprensa – que, por sinal, até onde eu sei, nunca procurou um pesquisador não envolvido nas denúncias para saber se gastos em restaurantes são compatíveis com seus projetos de pesquisa. No entanto, sua reação imediata foi alimentar o fogo, como que lançando os colegas às feras. Repito, sou crítico das fundações e de seu papel por muitos motivos e gostaria que nunca tivesse havido razões para que elas existissem. Mas nunca faria o que o senhor fez, aumentando as suspeitas de que eles já são vítimas. Posso discordar deles, mas respeito-os porque compreendo que não se combate a concepção de gestão e financiamento execrando os colegas que, por terem uma visão diferente da minha, militam de boa fé para facilitar as parcerias entre a Universidade e seus financiadores (os que o fazem de má fé sabem que não é deles que estou falando). Mais que isso, admiro profundamente a atitude deles, ao não apontarem a traição de que foram vítimas.
Porque já comentei as atribuições dos conselhos superiores, deixo de falar do mérito de sua segunda reação, atribuindo a decisão ao Conselho Diretor (CD) da FUB, como se ele não fosse presidido pelo senhor ou como se tomasse decisões sem sua aquiescência. Suspeito mesmo que o CD não toma decisões que não sejam propostas pelo senhor, mas não posso ir além das suspeitas porque nunca soube quando ele se reúne, nem mesmo na ocasião em que a diretoria da ADUnB à qual eu pertencia lhe fez essa pergunta, pleiteando discutir assunto de interesse da Casa do Professor. É mais uma diferença enorme que o CD tem em relação aos conselhos superiores representativos da comunidade da UnB (CONSUNI, CEPE e CAD), cujas reuniões são sempre de conhecimento público e cujo acesso só foi negado ao público em situações de exceção, como aquela reunião que aprovou as regras que regeram sua eleição a reitor.
Contudo, o mal que o senhor está fazendo não é só à UnB, mas à Universidade Pública como um todo. Os aspectos interna corporis que comentei até aqui são de difícil compreensão para quem não vive o dia-a-dia da Universidade Pública brasileira (aliás, parece que mesmo quem se debruça sobre ela para investigá-la tem dificuldade de entender seus meandros e muitas vezes faz mais confusão do que era de se esperar). A tamanha dificuldade de compreensão deveria corresponder um esforço ainda maior de dar transparência a tudo que se faz aqui dentro. O senhor fez exatamente o contrário. Já vem de muito longe a luta que travamos pelo cumprimento do artigo 207 da Constituição Federal, aquele que diz “As universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão”. Temos muitos inimigos nessa luta e os maiores deles nos acusam de descolamento da realidade e incapacidade de bem gerir a Universidade. Pois o senhor acaba de dar aos nossos maiores detratores os melhores argumentos que eles jamais tiveram. Eles hão de estar rindo de nós agora, mostrando uns aos outros o quanto somos irresponsáveis na destinação dos poucos recursos de que dispomos. Isso é traição à causa, Prof. Timothy, não pode ter outro nome. E uma traição ainda amplificada pelo fato de o senhor ser também o presidente do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras, o CRUB.
Prof. Timothy, não há forma de reparar o mal que o senhor fez, mas dispense-nos de sofrer constrangimentos ainda maiores. Tenho pensado muito sobre tudo isso nos últimos dias e o único meio que vejo de a UnB se proteger de novos e maiores males passa por exercer sua autonomia com a responsabilidade que o momento exige – e isso se faz com uma profunda auto-investigação sobre os mecanismos de gestão adotados pelo senhor, o que requer seu imediato afastamento do cargo. E não adianta dizer que a UnB sabe como é gerida, como fez sua assessoria ao responder à ADUnB dizendo que “os professores da UnB participam do orçamento indicando quais são as prioridades” (TV Globo, DFTV 1ª. Edição de 12/02/08, disponível em http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM788969-7823-CONTAS+DE+AGUA+DO+HUB+ESTAO+ATRASADAS,00.html). De forma traumática, todos tomamos conhecimento de como o palácio residencial da reitoria foi mobiliado – o que não sabemos é o que mais se fez com expedientes assim. Em nome da história da UnB e da Universidade Pública brasileira, tenha o senhor a grandeza de tomar a iniciativa.

Prof. Paulo Cesar Marques da SilvaFaculdade de TecnologiaDepartamento de Engenharia Civil e Ambiental

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